terça-feira, 20 de setembro de 2011

Amor de filha... Homenagem ao jornalista Octacílio Lopes, da geração de Castellinho e Villas-Boas Corrêa

Por Clara Favilla

Todas nós somos Terezinha de Jesus, não é mesmo? Aquela que de uma queda foi ao chão. Acudiram-na três cavalheiros, todos três de chapéu na mão. O primeiro foi seu pai... Sim nosso primeiro amor, aquele que não tivemos opção a não ser a de dividi-lo com aquela mulher que habitava o castelo. A dona do castelo, a dona do nosso amor, a nossa mãe. 

Nossos pais, como se barbeavam e a loção que usavam, como arrumavam as notas e os retratos na carteira, como lustravam os sapatos, a profissão que tinham,  os livros que liam, as canções que cantavam, seus sucessos e fracassos... Nossos pais definem a escolha dos homens que amaremos pela nossa vida toda. Pelo avesso ou pelo direito,  serão sempre nossas referências. 

Eu amei e amo muito meu pai que já se foi há 18 anos, cedo demais.  Assisto uma amiga querida a ensaiar a cerimônia de adeus para um pai bastante idoso e nem por isso o adeus será menos doloroso. Digo tudo isso porque recebi, para publicação neste blog, um poema escrito por um pai: Octacílio Lopes. O poema foi enviado pela filha Cris Lopes. Pai e filha jornalistas. O pai de Cris morreu aos 46 anos,em 1974. Estava doente, mas não se descartou erro médico.


Octacílio Lopes

Eu já sabia que Octacílio Lopes faz parte da história do jornalismo brasileiro. Mas fui procurar mais informações no Google sobre ele. E está lá registrado que foi  citado pelo jornalista e acadêmico Murilo Melo Filho,na saudação aos 60 anos de profissão de Villas-Bôas Corrêa, celebrados na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em dezembro de 2008: 

- Amigos e colegas há 60 anos, somos nós dois os remanescentes dos anos dourados da política, um tempo em que se estabeleceu o modelo político forjado por grandes nomes como Heráclito Assis de Sales, Pompeu de Souza, Octacílio Lopes, Osvaldo Costa e outras dezenas de heróis do nosso jornalismo.


Villas-Boas, ao lado do jornalista Otacílio Lopes, o Cara de Onça, no front da reportagem política – a chamada “Terra de Ninguém”, que a imprensa ocupava entre a tribuna e a presidência da casa, no plenário da Câmara, no Rio de Janeiro.


A pesquisa no Google também me faz encontrar  a história 876 das 1950 do Folclore Político, contadas em livro por Sebastião Neri. Eis a história:

13/12/68
Jantar na casa do jornalista Carlos Castelo Branco , em Brasília. Oministro Gama e Silva,da Justiça, aparecena TV e lê o Ato Institucional Número 05 (É o fim do Estado de Direito). Castelo diz a Élvia, sua mulher: "Serei preso amanhã.Vou dormir. Daqui a pouco manda esse povo pra fora (...)
Ao amanhecer chegou a polícia. (...)
Castelo vai preso para o quatel da Polícia do Exército. O comandante Epitácio, que tinha sido Secretário de Segurança do Intervetor Meira Matos, em Goiás, recebe-o na porta:  "A que devo a honra dessa visita?"
- Não vim visitar ninguém.
Minutos depois entra o jornalista Octacílio Lopes (o saudoso cara de Onça) e começa a matar os mosquitos do xadrez.
- Castelo será que eles deram esse golpe só por causa de nós dois? 
Vai chegando mais gente (...). E dai a pouco protestando,esbravejando, arrastado o bravoSobral Pinto, então com 75 anos. 

Bem, depois de tantas digressões vamos ao poema de Octacílio Lopes, enviado pela filha Cris Lopes, que continua declarando-lhe eterno amor e saudade

INTERVALO

De frente, a rua escura,
De frente, sempre na frente.

Em que pensa
(em que pode pensar?)
uma alma obscura
na rua escura?

Num pensamento cabem todos
os silêncios. Cruzam,
aflitamente enfeitiçadas,
todas as vozes. Mortas.

Todos os gestos. E a expressão
dos gestos sucumbida
em reminiscências. Vivas.

Lerda madorra de angústias,
Infinito gesto de descanso.

Presa à mente
repousa a sombra
das palavras.
Inaudível.

Das ausências que me habitam,
da palavra o uso não basta.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cheiro de chuva nas cigarras

Po Kátia Maia 
 

 Hoje senti o sinal de chuva no DF. Não, não houve pingos escassos vindos do alto, mas uma casca de cigarra cravada na árvore logo cedo - quando estava me alongando para minha corrida diária - Me fez acreditar que a chuva está a caminho e para breve.

Ao longo dessas minhas duas décadas de Brasília, aprendi a me acostumar com o canto das cigarras que chegam justamente com a chuva e a primavera. 


Lembro-me do meus meninos, ainda pequeninos catando as casquinhas de cigarras para guardar em potes. Eles adoravam descer debaixo do bloco e andar por entre as árvores catando as cascas deixadas pelas cigarras barulhentas.

Aliás, a cigarra é um bichinho que faz parte de nossas vidas desde a infância. Quem não se lembra da estória da Cigarra e da formiga? Eu adorava ouvi-la na escola.


Confesso que ficava sempre com muita pena da cigarra. Sempre me identifiquei mais com ela. Um ser boêmio, amante da arte, que apostava no prazer de se divertir  e fazia isso cantando.

A formiga, não. Sempre chatinha, pregando regras sobre ser previdente, guardar, pensar no futuro etc. E tentando enquadrar a irreverente cigarra.

A cigarra viveu o que quis e deu o sangue pelas suas 24 horas de vida, cantando, sendo feliz.  No final, (ta certo) se fué, mas foi feliz.

Mas, olha, no balanço de perdas e danos, embora eu tenha sempre admirado a cigarra, percebo que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

Terminei me tranformando em formiga previdente, com o pé no chão e fazendo economias para a chegada do longo e tenebroso inverno quando assim acontecia. Paciência. I keep living and sometimes I sing in the rain! Para isso, basta chover! Aguardemos.