terça-feira, 26 de julho de 2011

Ter amigos é tudo de bom!

por Katia Maia

Viajar é bom, mas viajar e ter amigos por perto é melhor ainda! Pela primeira vez na vida, fiz uma viagem internacional com meus filhos e tive por perto amigos para chamar de meus nos locais onde ficamos.


No quintal de Memélia

Não acho ruim viajar solta no mundo, sozinha, tendo que contar comigo mesma e seguir a minha própria vontade, mas confesso que foi maravilhoso estar perto de amigas nos locais por onde passei nessa empreitada pelos Estado Unidos.

Comidinhas saudáveis de Memélia
Não foi nada longo, não foi uma temporada, mas posso dizer que os momentos que passei na terra do Tio Sam foram sem dúvida mais agradáveis porque pude contar com a presença das queridas Memélia Moreira, em Orlando, e de Giuliana Morrone, em #NYC.

Falo agora de Orlando, onde pude conhecer o núcleo internacional do Café & Veneno. Foi uma experiência ímpar. Estar em terras estrangeiras e conhecer a cidade sob o olhar de quem mora lá é bem diferente do turismo que fazemos quando viajamos sozinhos.

Criamos certa identidade com o lugar. Sentimos que temos autonomia sobre o espaço e dominamos a área pelo simples fato de estarmos ali com alguém que conhecemos em uma cidade que nossos amigos conhecem.

Memélia e o marido Frank
E, olha, o núcleo internacional do Café & Veneno é bem acolhedor. Fomos recebidos – eu e meus filhos, portanto TRÊS pessoas – com uma atenção, uma delicadeza e uma harmonia que só encontramos em lugares onde sabemos que a afinidade e a felicidade acontecem.

Foi tudo tão tranqüilo que nos sentimos em casa. Tanto que meu filho mais novo – um admirador incondicional do futebol (até das partidas frustrantes de nossa seleção) conseguiu ver os (vergonhosos) jogos da seleção brasileira na Copa América durante nossa passagem por Orlando. Pode?

Pode! Desde que tenhamos amigos que se dispunham a nos receber em suas casas numa quarta-feira a noite ou num sábado à tarde. E foi exatamente isso que aconteceu.

Tudo isso, claro,  só foi possível porque tínhamos amigos na cidade. E quando falo amigos, me refiro à Memélia e ao Frank. Sentimo-nos queridos e acolhidos na casa dos dois e isso só significa uma coisa: amizade!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um cachorro chamado Capim...

por Clara e Lulu Favilla

Pense num cão feio. Pensou? Errou se ele não se chama Capim e não mora perto de um viveiro de plantas, em Brasília.



Tem esse nome porque foi achado num capinzal pelo meu irmão Dário, pai dos meus sobrinhos Victor e Luísa, a Lulu.  Esses meus sobrinhos, como o pai e o avô, que também se chamava Dário, se especializaram neste mundo na paixão por cães feios e abandonados ou quase abandonados.




O Capim foi achado quase morto de fome e sede, cheio de carrapatos. Meu irmão  providenciou-lhe banho com direito à tosa, que lhe deu limpeza, mas não lhe acrescentou qualquer beleza.  Antes do Capim , a família havia adotado a Pitucha, também vira-lata, nascida na  fazenda da minha irmã Vera. Pitucha, coitadinha, morreu por excesso de cuidados.

Apareceu  manquitolando. Foi levada ao veterinário que identificou algum tipo de problema na perna e recomendou cirurgia. Não resistiu à anestesia. Olha que falta de sorte! Se fosse menos cuidada, poderia estar viva até hoje, arrastando a pernoca. A morte da Pitucha foi traumática. Dias de chorororô inconsolável por parte da família dos Dan Favilla.


Capim e Victor

Aí apareceu o Capim. Depois de limpo e livre de parasitas foi levado pro apartamento, onde não se acostumou à vida de rei. É avesso a qualquer  etiqueta, mesmo as mais básicas, ensinadas por professor/treinador pago.

O jeito foi levá-lo para uma casa perto do viveiro de plantas da família, na saída norte da cidade, direção Sobradinho.  Lá tem um canil espaçoso. Bom, porque o Capim  só pode ser solto quando meu irmão está por perto de tanto que apronta. Meu irmão é o único ser dito humano que ele respeita.

Olha só a última que aprontou, segundo relato da Lulu:

Capim o cachorro ladrão

Em mais uma de suas  peripécias, Capim foi pego em flagrante com um bife, de origem desconhecida, na boca. Soubemos que o bife era de dona Francisca e estava salgando no sol. Então, Capim pulou, abocanhou o bife mais carnudo e fugiu para o canil. Quando meu pai foi tirar o bife da boca de Capim, o safado engoliu de uma vez. Como castigo ele foi PRESO no canil.

Aguardem novas proezas desse cãozinho danado. Aqui neste mesmo DogCanal.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A culpa é do vento

Por César Valente

Mais gente do que a gente imagina ainda vê árvores e plantas de uma maneira geral como “sujeira”. Quando eu era pequeno, ouvia muito falar que mandaram “limpar o terreno”. Significava derrubar as árvores, cortar os arbustos, deixar praticamente a terra nua. A terra “limpa”. “Ninguém quer comprar um terreno sujo”, diziam.




Mesmo agora, em bairros residenciais, a gente encontra pessoas muito incomodadas com árvores que ficam diante de suas casas. A foto acima foi tirada ontem. O dono da casa, mesmo sem ter, sobre a árvore da calçada, qualquer poder, a está cortando aos poucos. De tempos em tempos, corta um metro ou mais.

Perto dali, uma moradora, há alguns anos, cortou duas belas árvores que existiam na calçada em frente à sua casa. Perguntei a ela por que fazia tanta questão de derrubar as árvores: “Quando dá um vento isso aqui fica tudo sujo de folhas”. De fato, folhas pelo chão são uma sujeira inaceitável, com a qual nós, civilizados e limpinhos, não podemos conviver.

                                                      
Certamente, há quem pense que, com tantas árvores nos morros e matas que ainda sobrevivem, uma a mais ou a menos não faz a menor diferença. O que é uma pena, porque é justamente numa cidade que a árvore faz diferença. Imaginem que vocês são passarinhos, indo de um lugar a outro. As árvores são para eles como pedras em um rio para nós. Dá para atravessar um rio pulando de pedra em pedra. Eles podem cobrir enormes distâncias em busca de alimento e de afeto, se encontram, aqui e ali, árvores frondosas, onde podem descansar um pouco e trocar uma ideia com outros pássaros em trânsito.

Mas, já ouvi também gente se queixar da “barulheira” dos passarinhos. E para eles a derrubada dessas árvores à beira das calçadas resolve dois problemas vitais: a “sujeira” das folhas e a “algazarra” dos passarinhos. A Celesc, as operadoras de telefonia fixa e as empresas de TV a cabo também não gostam de árvores: é complicado estender aquela nojeira de fios que eles vivem estendendo com as árvores atrapalhando. Uma cidade com as ruas cheias de postes e com a paisagem comprometida por uma montoeira de fios é aceitável. Uma cidade com ruas arborizadas é um problema.

A natureza é um problema. Árvores têm raízes e como nem todos se preocupam em escolher as espécies certas para plantar nas calçadas, às vezes as raízes vão abrindo caminho e destruindo calçadas, esgotos e muros. As árvores, às vezes, caem. E tem gente que tem medo de árvores, porque considera que, a qualquer momento, ela cairá sobre sua cabeça ou, o que é muito pior, sobre seu carro. A natureza é mesmo um grande problema.

Felizes os habitantes do deserto do Saara. Ou das áreas desérticas que começam a se formar Brasil afora. Não precisam catar folhas. Não precisam temer as árvores. Não sofrem com o trinado dos passarinhos. Não ficam com sombras indesejáveis nos seus gramados, mesmo porque não terão grama nem qualquer outro vegetal.

Dia desses fui dar uma olhada numa araucária que, apesar do clima da capital, estava crescendo muito bem, altiva e saudável, no terreno de uma casa aqui perto. Acompanho seu crescimento há uns quinze anos. Levei um susto: tinham acabado de cortá-la, os pedaços do tronco ainda estavam por perto. Deu uma tristeza ainda maior porque, aparentemente, a derrubaram sem qualquer motivo sério. Apenas para não deixá-la crescer. Para evitar os pinhões. Com medo das grimpas. Pelo prazer obsceno de “limpar” o terreno.


Texto publicado em  O9 de agosto de 2006, no Diário do Litoral, o Diarinho (Florianópolis) e reunido no livro De Olho na Capital, os dois primeiros anos

domingo, 10 de julho de 2011

Vida inteligente ou vidas estúpidas independem da Geografia.


A propósito da visita ao Museu Dali, na Flórida
Por Memélia Moreira
Os snobs podem até não acreditar mas, existe, sim, vida inteligente nos Estados Unidos. E, para a perplexidade do grupo, um clube multinacional, essa vida inteligente vai além dos muros de Harvard. E também não se concentra apenas em Boston, Manhattan, Chicago ou Los Angeles. Até porque vida inteligente (e também as estúpidas), independe da Geografia. Digo isso porque, uma vez, quase me inscrevi no Clube dos Snobs. Mas Elia Kazan, Louis Armstrong, T.S. Elliot e John Steinbeck seguraram meu braço quando me preparava para assinar a ficha de inscrição.
Fachada já evoca a obra de Dali
Feita a confissão desse flerte com o esnobismo posso lhes garantir que até mesmo na Flórida, que não figura no roteiro de produção intelectual, pode-se viver momentos de puro deleite para o espírito. Cito dois para não me estender: o concerto de carrilhões em Lake Wales e o novo Museu Dali, em Saint-Petersburg. Antes que me esqueça, o clube muitas vezes torce o nariz quando se fala em Dali."Muito comercial", pontuam. 
Memélia e o marido Frank
Mas é do novo Dali Museum que vou contar porque lá estive e me encantei. Desde a inuaguração, em janeiro deste ano, planejava passar um dia em Saint-Petersburg que fica a exatos 120 km de Kissimmee, onde vivo.
SAUDADES DA RÚSSIA 
Além de uma viagem agradável, em estradas que nem de longe parecem terem sido construídas ou conservadas pelo DNIT, Saint-Petersburg foi plantada numa penísula que divide a Baía de Tampa do Golfo do México e em dias de sol explode num azul-cobalto que só Van Gogh e Frida Kahlo seriam capazes de reproduzir.
Cadeira do Café do Museu
A cidade tem 135 anos e leva esse nome porque seu fundador, Kanie Vladiskoviuch morria de saudades de sua Saint-Petrsburg natal, lá nas margens do rio Neva, na distante e gelada Russia dos eternos czares. E, talvez por influência de sua homônima, que abriga o Ermitage, o maior museu do mundo, Saint-Pete, como é carinhosamente chamada, sempre que pode, cria mais um museu. Nos seus 344 km quadrados (parte deles sob água), há escolhas variadas.
O Museu de Belas-Artes, que reúne peças de arte pré-colombiana, peças greco-romanas e arte européia dos séculos XIX e XX. Há ainda o Museu do Holocausto, o Internacional da Flórida, com suas exposições itinerantes e objetos pessoais da família Kennedy (é, os Kennedy igual á maioria dos seus conterrâneos sonha em se aposentar e viver na Flórida. E tem propriedades em Miami, Saint-Pete e outros balneários). Há também um "Museu da Criança" contando sobre as grandes conquistas da humanidade, além de muitas galerias de arte. E agora, a mais recente jóia da coroa, o novo Dali Museum (o antigo foi fundado em 1982) que se orgulha de contar com a maior coleção do pintor catalão Salvador Dali, colega de escola e amigo de nada menos do que do poeta Federico Garcia Llorca.
SALA DE CONTEMPLAÇÃO
Por mais que busque um outro adjetivo para classificar a arquitetura do Museu Dali, a primeira palavra que me vem é "estonteante". Se você não quiser (ou não tiver) os 20 dólares para pagar a entrada não se preocupe. Circule pela área externa. Há um lindo jardim, mesinhas do restaurante com suas belas cadeiras em acrílico, o labrinto, baseado em desenho de Dali e.... o museu, cercado de palmeiras.
Da prancheta de Waymouth saíu a construção em forma de um trapézio de concreto envolto em uma camada ondulada de vidro e aço. Sua estrutura é capaz de resistir a um furacão de categoria cinco, o que tranquiliza o visitante.  Tudo isso debruçado sobre o mar.
No térreo (considerado primeiro andar), estão o restaurante e a lojinha que vende reproduções dos trabalhos de Salvador Dali, além de camisetas, bolsas e até o famoso relógio derretido. O mesmo relógio tão presente nas obras do artista, que até parece ser uma obssessão com o tempo.
Quem resiste a uma lojinha de Museu?
No segundo andar, a biblioteca e, seguindo-se pela escada em espiral, chega-se a Dali, no terceiro andar.
E aí, situam-se duas galerias. Do lado esquerdo da escadaria, as obras mais famosas e também outras nem tão conhecidas. À direita da espiral-escada a galeria com as mais variadas manifestações de arte desse gênio que mais que um pintor, fez experimentos nas diferentes artes visuais. Além da pintura (e escultura), filmes (entre eles, "Le Chien Andalou", com o amigo e também genial Luís Buñuel, e "Destino", com Walt Disney) e até holografia, onde retrata sua alma gêmea na música, Alice Cooper. Se vivesse hoje Dali seria web design e estaria em frente a um computador brincando com o Simbolismo, Cubismo, Pontilhismo, Dadaísmo, Surrealismo e outras correntes que marcaram seu talento.
Lembraça do Dia de Dali, já na casa de Memélia
Nas duas galerias pode-se escolher entre admirar as obras num grupo com um guia ou pegar um gravador digital que descreve os quadros. Se você estiver frente ao gigantesco "Descobrimento da América" e este for o número 26, você digita o 26 e ouve as explicações necessárias. 
Quando você pensa já esteve em todos ambientes eis que uma placa informa: "Sala de Contemplação". Opa! Lá dentro, apenas um extenso banco de concreto, nada mais. Em frente....o mar, a contemplação do infinito.
BIGODES DE VELAZQUEZ
Da obra de Salvador Dali, o quê mais há a dizer? Ela já foi dissecada pelos experts. Mas ao ver o conjunto e até seus estudos tive consciência de que ele foi profundamente violentado pela II Guerra Mundial. Seu trabalho pós-horrores trazem imagens em sombra dos Cavaleiros do apocalipse, corações sangrando, olhos em pânico.
Dali
Também é marcante seu fascínio por Velázquez, de quem copiou os bigodes e a quem homenageou no quadro "Velázquez pintando a princesa Margarida com as luzes e sombras de sua própria glória". ´
O nome desse quadro de homenagem foi outra característica que me chamou atenção. Salvador Dali devia ter pena dos pobres mortais iguais a mim que, muitas vezes, diante de um quadro surrealista tem absoluta certeza de que admiram a Esfinge. E a qualquer momento podem ouvir a terrível frase "Decifra-me ou Devoro-te". Seus quadros Os quadros são auto-explicativos, com títulos extensos. Ele mesmo decifra e você o devora.
Velasquez
E de todos eles, um me fez passar mais tempo em admiração: "O Burocrata Comum". Uma figura que parece humana, sem cérebro, sem coração, olho distorcido. É a própria imagem do burocrata, um homem sem sonhos, sem, sentimentos, olhar vazio, o oposto desse artista retratou os sonhos, o irreal e transformou a vida numa performance.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Escondidinho de pato feliz...

por Clara Favilla

Ontem, eu, Leda Flora, Nira Foster Penha Saviatto, Lulu Favilla e, pelo menos, outras 70 pessoas, nos deliciamos com caldinho de milho verde, escondidinho de pato, salada de folhas crocantes. Para arrematar, frutas flambadas com sorvete de creme. Tudo isso, incluindo suco de abacaxi, dos grandes e sem espuma, saiu por menos de R$ 40 por pessoa, incluindo os dez por cento do serviço. Tivemos a alegria e a sorte de participar do evento Slow Food Cerrado de Julho, no restaurante Panelinha, que fica na 316 Norte. 


Clara e Lulu Favilla
Os produtos que fizeram parte do cardápio vieram do sítio de  Rosângela Piovizani e seu marido Clair , no Núcleo Rural Samambaia.. As verduras são cultivadas sem agrotóxicos e os patos, criados soltos e, segundo os proprietários, felizes. Pelo menos até terem os pescocinhos destroncados ou decepados. Não perguntei como tratam do pato, momentos antes de chegar  à  panela. Mas posso dizer  que o escondidinho estava simplesmente uma delícia. E até a Lulu, muito chegada a um hamburguer e batatas fritas comeu quase tudinho.




Prestem atenção na Biojóia do Pará, que Leda Flora está usando.
Simplesmente lindo. Chique no último.

Nira, Leda e Penha

Isabel Freitas foi a chef Slow Food da vez. Para saber mais sobre este jeito de cozinhar e ter acesso a alimentos, leia o post anterior, assinado pela Leda Flora. A equipe  do Panelinha.  deu o suporte necessário a Chef e, no final, todos foram mereciamente aplaudidos. Para quem ficou com peninha do pato, havia a opção vegetariana: lasanha de abobrinha, com molho de tomate e queijo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Você conhece o slow food?

Por Leda Flora

Para anoréxicos, bulímicos e aquelas estranhas criaturas que juram viver apenas de luz, conversar sobre o movimento slow food deve induzir ao sono rapidamente, de tão maçante. Para os grandes produtores rurais, que juram fazer a riqueza de seus países, também. E para os consumidores que adoram mastigar frutos exóticos de outras partes do mundo em seu próprio território, uma bobagem ímpar.



Mas o slow food já se espalhou por 150 países, embora seu ritmo seja tão lento que adotou a figura de uma lesma como logo. Fundado em 1989 na Itália, sob a batuta de Carlo Petrini, não tem pressa para agregar adeptos, adota um discurso consistente, e seus sabores diversificados são absolutamente sedutores. Cada lugar com seus próprios produtos, seu gostinho, batendo de frente com a globalização.


Num primeiro momento, parece apenas se opor ao fast food. Que nada, vai muito além disso, envolvendo questões culturais, econômicas, climáticas, ambientais e sociais. A cada dois anos, promove o Terra Madre, encontro mundial das comunidades do alimento não-industrial. De verdade, se preocupa menos com sanduiches e muito com a padronização alimentar, o desaparecimento da tradição culinária regional, o desinteresse pela procedência e pelo sabor dos produtos. E vem mostrando que nossa escolha alimentar afeta o mundo.

Olha só, o planeta produz para alimentar 12 bilhões de pessoas mas a população está na casa dos 6 bilhões. Assim, a exigência sobre a terra é enorme, que sucumbe sob tanto produto químico. Colheita realizada, ganha o lixo. Por dia, a Itália joga fora quatro mil toneladas de alimentos; os Estados Unidos, 22 mil. O planeta perdeu 70 por cento da sua biodiversidade e a fome castiga milhões e milhões. Gaia vem perdendo seu valor sagrado diante da política do consumismo. E a exigência de uma nova visão, um novo humanismo e novos sujeitos para tratar a terra e o alimento deveria ser uma prioridade. O slow food pensa assim.

O direito à qualidade do alimento e a valorização da agricultura local, bem como o respeito à sazonalidade, seriam um alento contra o desperdício e, de quebra, preservariam a cultura, a história. Mas o que se vê é o transporte de um produto exótico de continente para continente, agregando poluição, o amadurecimento de frutas com a utilização de gases, os supermercados invadidos por caixinhas industriais. O ideal seria comer como antes, de acordo com o clima e ao ritmo das estações, pois sempre que dizemos não à natureza perdemos muito.


E a comida, vale a pena? Claro que sim. Afinal, um italiano idealista não correria o mundo por um prato menor. Seria contrariar a natureza e a cultura do país dele. Outro dia mesmo, degustei uma paella com frutos do cerrado simplesmente super, encaixada na trilha da ecogastronomia, cem por cento sustentável e sem agressão á natureza. E é gostoso quando Carlo Petrini, com sua emoção mediterrânea, vira tudo de cabeça para baixo e brada: "Comer é um ato agrário, produzir um ato gastronômico, e moderno mesmo só a agricultura local".

Conheça o blog da autora deste post.
Clique aqui: Papo Furado

segunda-feira, 4 de julho de 2011

De segredos e saudades

Uma história bem contada


Cesar Valente


Uma história bem contada é combustível para a alma. Desde, é claro, que o ouvinte, leitor, espectador, tenha por hábito escancarar as janelas... da alma, ao ouvir, ver, ler, assistir. O filme "Meia noite em Paris", de Woody Allen, é uma dessas histórias bem contadas. E acredito que muitos dos espectadores saem do cinema com a alma em chamas, o peito aquecido e a imaginação voando à velocidade da luz.



As boas histórias, quando contadas com habilidade, nem precisam ser muito complicadas. A ideia do filme, no fundo, é bem simples: um escritor (que poderia ser qualquer pessoa com um nível cultural razoável) refugia-se em outra época e lá encontra os personagens que deram, àquela época, a reputação charmosa que tem. E assim como a grama do vizinho é sempre mais verde, em geral achamos que aquilo que não vivemos, porque ocorreu antes de nós, deve ser mais interessante.


A partir daí, o cinema do velho mestre nos envolve, num espetáculo que é puro entretenimento e faz a delícia dos sentidos. E tal como aqueles filmes que assistíamos quando muito jovens, nas matinês dos cinemas de rua (que hoje são templos evangélicos), é impossível não sair do cinema pensando no que vimos (vivemos?). E imaginando como seria se, em vez do americano aquele, o personagem principal fosse... eu. E quem seriam as mocinhas?

Não tem quem não tenha pensado em voltar no tempo. É um sonho recorrente na vida, na literatura, no cinema, em todo lugar. Nem que fossem apenas algumas décadas. E é impossível parar de pensar nisso, ainda mais depois de ter visto, há pouco tempo, o "Meia noite em Paris".



Sempre que a gente fala em como Florianópolis (ou qualquer outra cidade) era divertida na década de 1970, ou como parecia animada na década de 1920, quando a majestosa ponte de aço foi construída, está embarcando na mesma canoa em que Woody Allen nos conduz Paris adentro. E sempre que a gente sonha em poder encontrar novamente (ou pela primeira vez) alguém no passado, talvez para poder dizer alguma coisa diferente, ou roubar o beijo que faltou e que nos atormenta a vida inteira, acaba chegando à beira daquele precipício horroroso que é a nossa mortalidade, de onde só se pode escapar usando a imaginação. Navegando nas asas das histórias bem contadas.

Nota da Editora:

Achei o recadinho do César Valete que acompanhou o texto acima tão delicioso, que o compartilho com os amigos leitores deste blog:

Bom dia, Clara:
abaixo, pequena resenha sobre o filme aquele, que vou publicar amanhã na minha coluna de papel. Como se trata de coisa rápida, sem tratar dos segredos que o passado sempre protege, talvez nem sirva para o blog (faltou o veneno). Mas é um pouco mais do que a gente consegue dizer no tuíter.

Com isso, Clara, ficas abastecida até que Carmensita e eu voltemos da nossa viagem e possamos revelar o que vimos. É claro que não iremos contar tudo, até porque tem coisas que a gente vive, sente e experimenta que, se colocadas "no papel" perdem tanto, que talvez nem valha a pena tentar. Mas pode deixar que arranjaremos alguma historinha mais saborosa para saciar tua curiosidade. Nem que a gente tenha que inventar.


Abs e bjs


Cesar

domingo, 3 de julho de 2011

Itamar e eu


por Memélia Moreira

Faz quase 20 anos, mas todos os detalhes continuam tão vivos que posso até contar uma história daquelas cronometradas, minuto por minuto. Talvez seja uma das mais inusitadas das muitas inusitadas experiências que já tive. E não tenho dúvidas ao dizer isso, claro. Afinal de contas, foi a primeira e única vez que me aconteceu uma aventura palaciana.

  Parafraseando Neruda: o homem é o seu topete
                              
Calma, mentes libidinosas. Não, não foi uma aventura amorosa. E se fosse, eu jamais estaria aqui, frente a um computador, a contar segredos. Jamais contaria a quem quer que fosse. Conversas de alcova merecem nascer e perecer entre lençóis. Seja com reis ou mendigos. É parte do código de elegância dos amores fugidios, dos amantes perenes, dos companheiros de vida. Mas, vamos ao que interessa.

A FLORESTA

A aventura começou com o massacre de garimpeiros contra os índios Yanomami na região conhecida por Haximu. Na época, todo o território Yanomami estava conflagrado por uma massiva invasão de 20 mil homens, escavando o chão, destruindo os pilares que sustentam a Terra.

Lá, onde Brasil e Venezuela compartilham florestas de beleza quase agressiva, montanhas erguidas qual castelos medievais e paredões que se parecem colunas de soldados prontos a defender as matas, se travava a batalha do último grande povo primitivo do planeta, os Yanomami, contra milhares de famintos de todo o Brasil em busca de uma pepita que lhes salvasse a vida.

Lá se chama Roraima, ou Roraimã, que na língua do povo de Makunaimã, os Makuxi, significa "terra dos ventos". Foi o que me ensinaram da terra onde nasci. O número de mortos, embora Aritmética seja uma ciência exata, é variável. Uns falam em 90, outros em 13, alguns dizem que chegou a 15. Mas o Supremo Tribunal federal reconheceu o massacre como ato genocida. E foi.  

Nunca, ou talvez só daqui a muitos anos, as ossadas descarnadas, com aquele branco ofuscante dos esqueletos determinem com exatidão quando, quantos e como morreram as vítimas do massacre de Haximu. Porque até mesmo a data precisa do massacre flutua a cada texto. A única informação certa é a de, que, sim, houve um massacre em Haximu e morreram muitos índios. Os demais fugiram apavorados.

A notícia chegou ao Brasil (é isso sim, de Roraima para o Brasil, acredito, a notícia pode durar mais de dez dias, mesmo na era dos MSN, Google Earth, smartphones e outros quetais) nos primeiros dias de julho. E foi aquele estupor de sempre. O estupor de uma sociedade que, ao se olhar no espelho entra em choque. Ela enxerga, sem máscaras, toda a monstruosidade de que é capaz de perpetrar em nome de uma discriminação que nega, mas está presente a cada movimento do corpo.

O choque foi tão forte que não hesitamos avançar, dedo em riste, em direção aos garimpeiros. E, com ar de desprezo, apontá-los como únicos responsáveis pela ocupação fundiária desordenada de uma Amazônia sem lei, mas com sobas e reis atrás de cada árvore, ou restos de árvore.

O massacre tomou vulto e se espalhou pela comunidade internacional, essa entidade mítica que cria verdadeiros marimbondos de fogo no estômago de cada autoridade. É quando o sentimento do colonizado se aflora em carne viva. “O que é que o patrão vai pensar de mim” fantasiam presidentes, senadores, ministros, se não tiverem uma resposta aos colonizadores. Sim, todos eles, sem exceção, comportam-se como meninos do grupo escolar em dia de visita do diretor da escola. Do suor de seus rostos as gotas pingam formando interrogações nos ladrilhos, assoalhos, chão batido. O que será que eles (os estrangeiros, os colonizadores, claro) vão pensar de nós, brasileiros? Essa mentalidade só muda de quatro em quatro anos, quando entramos num campo de futebol, com o coração aos saltos e a certeza da resposta nos pés. Mas chega de poesia, blablabla, nariz de cera.

O massacre caiu bem na sala do procurador geral da República, Aristides Junqueira Alvarenga, a quem eu assessorava, caíu do lustre do Salão Oval do Palácio do Planalto, onde o presidente se reunia com seus pares, caíu feito bola de fogo no gabinete do ministro da Justiça, um pacato advogado, apreciador de um bom malte, derrubou paredes da Funai e e foi fazendo seus estragos em direçao a todas as fronteiras.

Daí a pouco, o mundo inteiro congestionou as linhas telefonicas do Brasil. Houve um massacre! "Eine Massaker"… gritavam os alemães ao telefone, quase felizes por não carregarem, sózinhos, o carimbo de genocidas. "Les chercheurs d´or ont tué des dizaines d´indiens", murmuravam franceses como se cada vírgula fosse um segredo da Linha Maginot.
A mesma imprensa que, desde 1989, acompanhando a evolução dos acontecimentos na área e ouvindo seus colegas brasileiros, feito pitonisa, anunciara a fermentação do caldo que borbulhava numa panela onde foram jogados todos os problemas da contínua desordem agrária e da pobreza brasileira  e que, deliravam as autoridades, deveriam se resolver dentro de um buraco, nas profundezas da terra, de preferência, longe de Brasília, do sul-sudeste maravilha. E, se fosse um buraco com ouro, diamante, tungstênio, urânio, era ainda melhor.

A COBRANÇA INTERNACIONAL

Em meio à loucura, à algaravia de línguas tão exóticas quanto o croata e o polonês, coreano (ou será que todos falavam inglês e eu só ouvia com os olhos?), organizava a viagem do chefe, euqnato coleguinhas sôfregos por um detalhe a mais, mesmo que fosse uma gota de sangue, circulavam pela sala. O procurador geral da República e o ministro da Justiça embarcararam para Roraima. Dar uma resposta internacional e pedir trégua, era o objetivo maior. Mais uma trégua que permitisse a sobrevivência do povo Yanomami.

Voltaram no mesmo dia. No outro, o presidente da República, no uso de suas inequívocas atribuições, convocou um Conselho. A República se reuniria. Precisava dizer para esses “malditos estrangeiros” que vivem xeretando nossas insanidades que tudo estava sob controle, tudo continuava nas mãos firmes do comadante em chefe do país e das Forças Armadas, do clero, dos doleiros, dos líderes políticos, do narcotráfico, da soceidade civil organizada, desorganizada e do povo em geral.

Acompanhei meu chefe e me sentei numa poltrona de uma saleta vazia, sem secretária, mas com um telefone. E lá ficaria o tempo necessário, esperando ser acionada pelo procurador geral que já fora para a grande sala de reuniões do Palácio do Planalto. Puxei da bolsa o companheiro de todas as horas. Na época era "Nostromo", de Joseph Conrad. E me embrenhei nas palavras.

UM PRESIDENTE

Nesse momento, na sala vazia, entre um homem apressado, me pega pelo braço e diz: "estamos atrasados". Eu, que nem tive tempo de explodir minha surpresa, me deixei levar. E não poderia ter sido difrente. A mão que me arrastava com delicadeza era a do presidente da República do meu país. Fui. Docilmente.
 À porta da sala de reuniões, ele para e me pergunta: que é que você está fazendo aquI? Por que ainda não procurou sua cadeira. Como assim?, pensei. Ele deve está me confundindo. Será que bebeu, se drogou. Obedeci. Arrumei uma cadeira bem atrás do meu chefe que acompanhava a cena sem entender o diálogo dos personagens.

Informes foram dados, sugestões, ranger de dentes, comandantes militares vociferavam pedindo mais recursos, parecia que iam sair aos  tapas. Eu, muda, assustada, quieta, com o coração numa montanha russa. Nada. Passa-se o tempo, falam, falam. Bem mais de duas horas, três e, depois, batem na mesa unanimente. A solução iluminara a sala. Acabavam de criar o Ministério Extraordinário para Articulação de Ações na Amazônia Legal. Um ministério com nome e sobrenome. Assim, sem qualquer pudor. Na minha frente. A reunião se dissolve. Os carros pretos rodam o caminho de volta.

PARA SEMPRE

O presidente, então, na maior gentiliza, como se minha opinião fosse decisiva, me perguntou: "E aí, gostou do resultado?”. Na sinceridade que salta de minha boca de forma descontrolada, antes mesmo de passar pelo esmerilho, respondi “não, não gostei. Não precisava de um Ministério da Amazônia. Precisa só usar a lei. Ela existe".

Estava corada, morta de vergonha, mas a observação já tinha ganhado corpo independente e falava quase sozinha. O presidente pegou os papéis um tanto amassados e disse  “na próxima, você bate o pé, reclama". O que? Não houve próxima e, ainda em dúvidas sobre tudo o que acontecera naquela manhã, agradeci com a voz mais suave que pude encontrar dentro de mim. "Presidente Itamar, obrigada. Foi uma aula". E ele, “Claro você nos inspirou".
E já não era o presidente Itamar Cautiero Franco. Era o sempre galante cidadão Itamar Franco usando não mais uma atribuição constitucional e sim seu mais conhecido atributo, a galanteria. Sempre educada e sedutora.
Adeus, Presidente! Obrigada, presidente Itamar. Foi uma aula

sexta-feira, 1 de julho de 2011

FORA DA REDE

NESTE SÁBADO ACONTECE EM BRASILIA A FEIRA DE BRECHÓS ONLINE FORA DA REDE.

por katia maia

Um encontro de brechós virtuais para vender tudo o que só pode ser visto por meio dos blogs. Agora, você terá a oportunidade de conhecer pessoalmente as peças que estão nas páginas dos principais brechós virtuais da capital federal.

O encontro está em sua segunda edição e aserá realizado na 211 norte, ao lado do instituto de beleza Visana. Vinte ‘brecjholeiras’ participam dessa edição, na qual eu me (KATIA MAIA) incluo com o meu blog o TROCA TROCA BRASÍLIA -
O ENCONTRO segue a linha do CONSUMO COLABORATIVO que prega o desapego. O que temos em nosso armário, parado, esquecido pode muito bem encontrar lugar no cantinho de outra pessoa. Assim, compramos o que já está no mercado e não incentivamos a produção desenfreada de nas peças.

Bom, quem se interessou, aí vai a dica:

SERVIÇO:

DATA: 02/07/11
Horário – 9h às 19h
Local – 211 norte (comercial) ao lado do Instituto Visana